Gaita de Fole
(Bagpipe)
A gaita-de-fole, além de ser um dos primeiros instrumentos musicais que surgiram
no mundo, é uma invenção extraordinária. Uma invenção da humanidade, aprimorada
ao longo de vários séculos pelo método de tentativa e erro, guiada por uma
espécie de seleção natural. Como uma criatura viva, a gaita-de-fole um dia
nasceu, está evoluindo, mas se não for cultivada, morrerá.
Acredita-se que a gaita-de-fole tenha surgido durante as primeiras grandes
civilizações da Mesopotâmia e do antigo Egito. Em tais regiões, teria surgido a
cana Giant reed (palheta gigante), cientificamente denominada Arundu donax, com
a qual são feitas as palhetas do chanter e as tradicionais palhetas de cana dos
drones.
Poderíamos imaginar que antes de surgir a primeira gaita-de-fole, um chanter era
tocado por um músico com mãos habilidosas, enquanto outra pessoa produzia a nota
constante de fundo com um drone.
Com o passar dos anos, o músico que tocava o chanter teria descoberto a técnica
da respiração circular, como usada pelos tocadores de Launeddas da Sardenha e
Sicília, que permite tocar sem parar para pegar fôlego. É bom lembrar, que para
empregar tal técnica, a palheta do chanter deve ser um tanto fraca, para não
exigir uma grande quantidade de ar em tão pouco tempo.
Logo surgia a idéia de acoplar o chanter à uma bolsa que serviria de
reservatório de ar. Outro tubo também seria acoplado à bolsa simplesmente para
manter a reserva de ar através do sopro. Talvez a idéia de se acoplar a flauta
de digitação numa bolsa tenha sido até inspirada pela própria boca do músico: um
compartimento inflado em cujo saída temos o chanter. Além disso, outra idéia
mais original: por que não acoplar na mesma bolsa, o drone do colega, já que o
som produzido não necessitava de digitação? Quando essa bolsa estivesse cheia e
fosse apertada pelo braço, o chanter e o drone soariam ao mesmo tempo. Quando o
ar estivesse acabando, a bolsa receberia mais ar através do tubo de inserção.
Foi depois desse primeiro sopro do primeiro gaiteiro que surgiu a primeira
gaita-de-fole no mundo.
Para que o ar inserido não voltasse pelo mesmo tubo, inicialmente o gaiteiro
teria que tapar o bocal do tubo com a ponta da língua. Mas pelo que conhecemos,
além disso ser extremamente desconfortável, é mais um processo a ser mecanizado
para podermos prestar atenção somente na música. Assim, o uso de uma válvula que
impedisse o retorno do ar logo seria difundido.
Outro problema inicial era manipular as palhetas do chanter e dos drones e a
válvula do blowpipe (tubo de inserção). Todos os tubos da gaita estariam
diretamente amarrados à bolsa, com uma forte amarração. Isso dificultava o
trabalho de se retirar tais tubos e criava o risco de se furar ou cortar a bolsa
ao desfazer a amarra com uma faca. Os stocks (soquetes) foram a solução para
isso, na medida em que passaram a intermediar a acoplagem dos referidos tubos à
bolsa: uma das extremidades de um stock fica sempre amarrada fortemente à bolsa,
enquanto a outra ajunta-se com o tubo por atrito. É a mesma idéia do soquete de
uma lâmpada no teto.
Agora também seria possível aumentar a potência sonora do instrumento. Pois
podendo apertar a bolsa com o braço e assoprá-la em intervalos regulares, a
pressão interna da bolsa poderia ser aumentada. Para tanto, as palhetas deveriam
ser mais fortes para não fecharem com a maior pressão da bolsa. Vários séculos
mais tarde, gaitas-de-fole passaram a ser tocadas para estimular soldados em
batalhas devido ao seu som marcial, enquanto que as novas facilidades teriam
estimulado ainda mais o estudo do instrumento e seu desenvolvimento.