Bateria
(Drum Set)
A etimologia do termo percussão remete ao italiano percussione, do latim percussiõnis, substantivo feminino que indica o ato ou efeito de percutir (do latim percütere), que significa bater com força em algo, ficando subentendido que se faz uso de outro material para esse ato.
Na música, entretanto, o instrumento denominado de percussão pode não ser percutido, tendo apenas uma relação rítmica com a obra musical.
Enquanto prática, a música tem sido metodologicamente dividida em vocal e instrumental. Com relação à música instrumental, é generalizada a subdivisão em música instrumental de acompanhamento e música instrumental pura. A música instrumental de acompanhamento pode ocorrer em manifestações vocais ou manifestações físicas onde ocorrem danças e rituais mágico-religiosos. É na música instrumental de acompanhamento de manifestações físicas que podemos encontrar a origem do instrumento de percussão.
Sendo a música instrumental de acompanhamento considerada a base da música instrumental em geral, é provável que o instrumentista que dominava a técnica de execução basicamente rítmica também fosse responsável pela execução de outros instrumentos essencialmente rítmicos e com técnica de execução simples. Os movimentos corporais dos participantes dessas manifestações faziam com que os materiais que carregavam (cintos, colares, pulseiras, bastões etc.), adicionassem ou reforçassem sonoridades, além de sapateados e de palmas ou tapas no próprio corpo. Em documentos arqueológicos ou em comunidades arcaicas que ainda dividem o planeta conosco é possível observar o uso de inúmeros materiais simples com função rítmica em manifestações rituais e de dança. Tribos da Malásia entrechocam pedras, comunidades haitianas entrechocam bastões, indígenas brasileiros batem bengalas contra o solo e em quase todas as comunidades encontramos chocalhos e guizos. Estes instrumentos são usados até nossos dias com pouca ou nenhuma variação na construção, seja em músicas populares, folclóricas ou eruditas, seja em obras simples ou altamente complexas. O percussionista, por extensão, pode atuar sem percutir, executando instrumentos pela ação de chocar, entrechocar, sacudir, raspar, friccionar e dedilhar.
A partir dessas considerações, os instrumentos de percussão são classificados conforme a técnica empregada para executá-los.
1) Instrumentos de choque simples, como o bastão de ritmo (batido no solo);
2) instrumentos de entrechoque, como pares de pedras ou bastões de madeira. Destacam-se o prato dois (ou pratos de banda), a matraca, as castanholas, as claves, o cokiriko (do Japão) e os sinos de vento (feitos de bambu, conchas, metal etc...);
3) instrumentos sacudidos, divididos em chocalhos de recipiente como as maracas e o ganzá, e chocalhos externos como os guizos e o xequerê (do Brasil);
4) instrumentos raspados de construção simples por meio de ranhuras em bastões de madeira, bambu ou metal ou com o aproveitamento de materiais naturais que possuem ranhuras alinhadas como alguns ossos de animais. Destacam-se o reco-reco, a tábua-de-lavar e o afuxê;
5) instrumentos friccionados como os blocos de lixas, o tambor de fricção (peça de madeira friccionada com os dedos e as mãos úmidas, chamado nout-nout na Oceania), a harmônica de vidro, o gnelé (casco de tartaruga friccionado usado na América Central), a cuíca, o berra-boi do Brasil, o cri de la belle-mére da França, a caccavella da Itália, a máquina-de-vento, o zumbidor e o serrote (friccionado com arco de violoncelo);
6) instrumentos dedilhados, com destaque para a buimbarda (pedaço de bambu com forma semelhante a um garfo, colocado contra os lábios e dedilhado com um dedo) e a sansa (série de lâminas alinhadas, com alturas sonoras definidas e dedilhadas com os polegares);
7) instrumentos percutidos, subdivididos em idiofônicos (cuja vibração é do próprio material do qual são feitos), membranofônicos (onde há uma membrana tencionada, primitivamente uma pele de animal) e cordofônicos (com pelo menos uma corda tencionada).
Os instrumentos idiofônicos percutidos classificam-se em:
7.1 idiofônicos percutidos de madeira, subdivididos em
7.1.1. tambor de madeira simples, destacando-se o tambor de árvore (feito de tronco de árvore escavado e percutido com bastões), o temple-block, o wood-block e o cajón (de Cuba, percutido com as mãos);
7.1.2. tambor de fenda, também construído com o tronco de árvore (que permite a produção de pelo menos dois sons com alturas distintas), destacando-se o Trocano (dos índios da Amazônia) e o teponaztl (da civilização asteca);
7.2. instrumentos idiofônicos percutidos de metal, destacando-se o prato suspenso, o tantã, o temple-bell, os sinos e o triângulo;
7.3. instrumentos idiofônicos percutidos com alturas determinadas, feitos de barras, tubos, placas ou recipientes alinhados, destacando-se o xilofone, o vibrafone, o glockenspiel, as campanas tubulares, o djaltarang (da Índia, cuias de porcelana com água percutidas com varetas de bambu), o tambor-de-óleo (da América Central) e o tjiwoaing (de Myanmar, série de 17 a 21 gongos percutidos);
7.4. instrumentos membranofônicos percutidos, caracterizados por possuir pelo menos uma pele tencionada na abertura de um recipiente oco. A tensão é conseguida, nos instrumentos mais primitivos, por meio de cordas amarradas no casco do próprio instrumento. Nos mais modernos é usado um aro que pressiona a pele no casco. São tocados com bastões (técnica de percussão arremessada) ou com as mãos, técnica mais primitiva mas não necessariamente menos elaborada musicalmente. Dos instrumentos com duas peles destacam-se o bumbo, a caixa ou tarol, o tambor-chacoalhado (ou damaru do Tibet), o bedug (Indonésia), o daiko (Japão) e os tambores batá (Cuba). Dos instrumentos de uma pele destacam-se os tímpanos, o atabaque, os bongós, a tabla e o tamborim (do Brasil);
7.5. instrumentos cordofônicos percutidos, em que se incluem o berimbau, o tambor-de-corda (uma ou duas cordas tencionada sobre uma caixa de madeira, percutidas com varetas) e o dulcimer ou cimbalon (da Hungria, série de cordas percutidas com baquetas de pontas cobertas com tecido);
8. instrumentos mistos, destacando-se o pandeiro, o devil's violin (Alemanha e Flandes), a bateria popular, o flexatone e o tokang (da Indonésia).
Do ponto de vista quantitativo é possível encontrar cerca de 75 tipos de instrumentos diferentes, conforme a técnica de execução empregada, e centenas de variantes, conforme a cultura em que são usados.
Apesar de ser um conjunto de instrumento tradicional e essencial em inúmeras culturas do Oriente, no Ocidente, apenas no século XX, a partir da década de 1930, a percussão deixou de ser complemento nas orquestras e grupos populares e adquiriu status de grupo autônomo, tendo sido criadas obras para grupos e solistas e incentivado o uso de novos materiais para a confecção de instrumentos.
http://planeta.terra.com.br/arte/emerickhorn/index.htm
Som do Instrumento
My Possession, Rolling Stones