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Chamou-se Michel de Nostre-Dame. Conhecido por Nostradamus, nome alatinado (comum em seu tempo, como Descartes era Cartesius). Creio que ele quis dizer: "damus nostra", em latim "damos coisas nossas", intuições que Deus me revela.
Nasceu em 14 de dezembro de 1503, em Saint-Remy-de Provence (sul da França). Seu avô foi um droguista célebre e astrólogo. Seu pai foi notário. Seus antepassados foram judeus. Nostradamus foi cristão, como já fôra um seu próximo antepassado "convertido". Frisava sempre que sua inspiração era inata; que seus antepassados descendiam da tribo de Issachar (filho de Jacó), notável pelo dom profético, na raça judaica: "destros na ciência dos tempos, para ordenar o que Israel devia fazer" (Crônicas I: 12-32).
Cursou medicina na Universidade de Montpellier, onde se doutorou, com alta classificação, aos 26 anos. Viajou pelo sul da França e pela Itália, convivendo com Scaligero, médico e filósofo de fama. Fixou-se depois em Salon de Provence, como médico. Casou-se com Adriette de Loubejac, de quem teve dois meninos.
Em 1545 há uma epidemia (a "peste negra"), na Provença, que ele consegue debelar. Morrem-lhe, porém, a esposa e os dois filhos. Recolhe-se ao mosteiro de Orval (no Luxemburgo), onde escreve as principais profecias. Em Lyon surge outra epidemia, e Nostradamus debela-a igualmente. Volta a Salon. Casa-se com Ana Ponsarde.
A sua fama espalha-se. Cobrem-no de honrarias. É conselheiro de Henrique II, e é estimado por Catarina de Médicis, Francisco II e Carlos IX. Chavigny, doutor em Direito e Teologia, seu conteporâneo e discípulo, diz na biografia que lhe traçou:
Tinha corpo robusto, fronte grande, nariz direito, olhos cinzentos, olhar doce, mas rutilante, quando se zangava; rosto severo e risonho, barba longa; pensava muito e falava pouco; dormia 4 a 5 horas; louvava e amava a liberdade de linguagem; chistoso, mordaz, mas risonho; fervoroso no catolicismo; dizia que fora do catolicismo não há salvação; repreendia os que se afastavam dele, condenando suas doutrinas estranhas e dizendo que eles teriam mau fim; fazia orações e jejuns; dava esmolas, literalmente, dizendo: "Granjeai amigos com as riquezas da iniqüidade" (S. Lucas 16-9: "Parábola do Mordomo Fiel").
Faleceu em Salon, em 2 de julho de 1566, sendo sepultado na igreja do Convento de Cordeliers. O seu último túmulo foi visitado por altos personagens: Luís XIII, Luís XIV, acompanhado do Cardeal Mazarino, e outros. O epitáfio do seu túmulo, gravado em latim, diz:
Aqui estão os restos mortais do muito ilustre Miguel Nostradamus, o único, na opinião de todos os mortais, cuja pena quase divina, foi digna de escrever, segundo o movimento dos astros, os futuros acontecimentos, que se hão de dar no mundo inteiro.
Viveu 62 anos, 6 meses e 17 dias.
Morreu em Salon, no ano de 1566.
Que a posteridade não pertube o seu repouso.
Ana Pônsia, sua segunda mulher, deseja ao seu excelente esposo um eterno descanso.Na Revolução francesa (1791) seu túmulo foi profanado; mas, depois, seus restos mortais foram levados para a Capela da Virgem, na igreja de Saint-Laurent, em Salon, onde ainda hoje os salonenses depõem flores, como homenagem ao grande vidente.
As suas obras:
"Carta a meu filho César Nostradamus" (em prosa).
"Carta a Henrique II, rei da França" (em prosa).
"As Centúrias" (são doze, escritas em quadras, com versos de 10 e de 12 sílabas).
"Presságios" (141 sílabas).
"Predições" (58 sextilhas).A 1ª edição foi feita em Lyon: "Les Vrayes Centuries et Profeties de Maistre Michel Nostradamus", em 1555. O editor foi Macé Bonhomme. Compreende apenas a Carta a César e as primeiras Centúrias. Em 1568, Rigaud fez outra edição, com mais outras obras. Em 1668, Jean Jansson publicou a edição definitiva, em Amsterdão.
A divisa de Nostradamus é: "A Deo, A Natura", que contém a chave principal para decifrar suas profecias ("inspirado por Deus, e pela ciência da influência dos astros na vida humana").
AS CENTÚRIAS NÃO ESTÃO POR ORDEM CRONOLÓGICA. Os intérpretes, às vezes, cometem grandes erros, o que é natural. Por exclusão de partes, porém, tendo já verificado que certos acontecimentos se deram, vão procurando decifrar o que falta.
Nostradamus morreu de gota, que se espalhou por todo o corpo. Fêz testamento, confessou-se ao padre Vidal e comungou como cristão fervoroso. Nos seus livros frisa sempre que não praticou a magia; de 1400 a 1504, foram queimados 30.000 bruxos e bruxas, sendo por isso grande o seu temor.
Nostradamus predisse a sua própria morte no Presságio 141, o que realmente sucedeu:
De retour d'Ambassade, don de Roi mis au lieu
Plus n'en fera: sera allé à Dieu
Parans plus proches. amis, frères du sang
Trouvé tout mort près du lit et du bancDe volta da embaixada, dom de Rei em seu lugar
Nada mais fará; terá ido para Deus
Parentes mais próximos, amigos, irmãos de sangue
Encontrado bem morto, perto do leito e do bancoSucedeu, em 2 de julho de 1566, realmente assim.
Em junho desse mesmo ano, escreveu numa carta a Jordão Stadius:
"Hic prope mors est" , "Aqui (minha) morte está próxima".
No dia 1º de julho (na véspera de sua morte), precisou:
"Já não me vereis com vida ao nascer do sol".