O MACHISMO DO MAINFRAME

William F. Zachmann
Trad. A. C. Mattos
PC Magazine, 13-fev-90, p. 83

O Machismo do Mainframe parece estar de novo em moda. Lembre-se da antiga convicção dos tipos da velha linha MIS-CPD: Se não é um mainframe, não pode ser um computador de verdade! --- e seu corolário, de que se não é uma aplicação para mainframe, não é uma aplicação de verdade.

Briga ou fuga, existem, de acordo com os pesquisadores, duas respostas geneticamente programadas para um desafio percebido. A mais recente onda do machismo do mainframe, que tem toda a aparência de um revide, toma a forma de ataques impressos contra aqueles que estão supostamente super-vendendo utilitários baseados em microsistemas. Eles afirmam enfaticamente que os mainframes estão aí para ficar porque são a única forma de tratar as grandes aplicações.

Ao mesmo tempo, é também uma resposta do tipo fuga, pois se distanciam da realidade tecnológica e econômica --- e do Mercado onde os dois se encontram. Eles se recusam a dizer a quem os artigos se destinam, enquanto fingem vencer uma batalha imaginária contra inimigos ilusórios.

Um editorial do Computerworld do último outono (23-out-89) disparou o primeiro tiro na escaramuça corrente. Computerworld e outros lançaram-se ao anúncio do larga escala VAX-9000 da Digital Equipment e da linha Cyclone da Tandem como a evidência do reviver dos mainframes. Desde então, outros têm tomado o cartaz, clamando que o mundo não está de fato mudando muito, apesar de tudo, e que continuará a ser um empreendimento normal, sempre que se trate do canhão do mainframe. O machismo do mainframe se tornou uma minimoda.

Mas, no fim das contas, soma pouco mais do que o urro de um dinossauro condenado, quando descobre que o ar está difícil de respirar, o tempo está esfriando, e seus pântanos estão secando. Impossibilitado na prática de lutar ou fugir, se colocam em nada mais do que uma pose vazia.

Os argumentos utilizados pelos mainframers para reforçar sua Causa são dirigidos contra os espantalhos de sua própria invenção, ao invés de ser contra a realidade que obviamente os deixa tão tensos. Eles tornam triviais os esmagadores argumentos dos sistemas baseados em microprocessadores, reduzindo-os à absurda controvérsia de que qualquer aplicação pode ser rodada em computadores pessoais. Isto ignora completamente a realidade de maiores e mais poderosos sistemas baseados em microprocessadores.

Claro está que se você define a palavra mainframe como qualquer sistema grande, então você pode argumentar que os mainframes estão aqui para ficar. Mas isso leva a nada mais do que a afirmação do óbvio. Simplesmente indicando que há aplicações de larga-escala no mundo real, que continuarão a necessitar de sistemas de grande porte para rodar, não é de todo um argumento para a sobrevivência do mainframe.

DESCENDO ÀS MINÚCIAS

O que define um mainframe tradicional não é simplesmente seu tamanho e capacidade. Sua arquitetura patenteada, sistema operacional patenteado, protocolos de comunicações patenteados, e software aplicativo patenteado levam inevitavelmente a um preço semimonopolístico, que é uma parte inescapável de sua operação.

Grandes sistemas baseados em múltiplos microprocessadores padronizados são significativamente diferentes dos mainframes. Embora similarmente projetados para manipular imensos bancos de dados, volumes de transações e cargas de processamento, são construídos a partir de componentes eletrônicos padronizados e rodam embaixo de sistemas operacionais padronizados. Como resultado, podem oferecer uma relação preço-performance que é muito mais próxima de seus primos computadores pessoais do que dos tradicionais sistemas de mainframes ou de minicomputadores.

O acampamento do mainframe normalmente responde a este fato lançando mão habilmente de declarações de alguns tipos obsoletos do CPD que têm suas cabeças quadradas azul-pálidas enterradas firmemente na areia e podem ser contados por dizerem coisas estúpidas como: Não há nenhum jeito de eu trocar meus 3090's por essas coisicas esquisitas. Supõe-se que isso prove que as Corporações americanas não estão afim de confiar seu processamento de dados a sistemas de última linha baseados em micros.

O que está faltando ao quadro é o fato de que esses mesmos gerentes de processamento de dados, diretores de sistemas de informações, e assim chamados executivos de informática são aqueles que de fato têm sido substituídos ultimamente. Com efeito, isso têm ocorrido a uma velocidade espantosa. Os semanários do CPD do velho estilo como Computerworld e MIS-Week têm testemunhado um fluxo contínuo de substituição de executivos nos postos de Informática nos últimos anos.

A razão primária para esta tendência tem sido a crescente insatisfação das Corporações americanas com os resultados obtidos com o seu dinheiro, gasto em sistemas de informações corporativos. Os Executivos de Informática, que se recusam a substituir seus custosos mainframes pelas alternativas mais baratas baseadas em microprocessadores, estão simplesmente se convidando a serem substituídos --- qualquer um que seja tapado o suficiente para insistir na resolução de problemas com MIPS de mainframes de US$ 100.000, quando poderiam ser resolvidos com MIPS de micros de US$ 1.000, está apenas pedindo uma nova carreira de consultoria. Simplesmente porque o acampamento do mainframe, que pode persuadir alguns desses a acelerar sua própria demissão ao fazer afirmações descabidas em público, dificilmente estará colocando um argumento para o renascimento dos mainframes.

NÃO PROVADO

O fato de que vendedores como a DEC e a Tandem têm introduzido sistemas maiores da classe dos mainframes em meses recentes no entanto não prova nada. Nem a série VAX-9000 nem o Cyclone da Tandem são exatamente um mainframe tradicional. Ambos oferecem relações custo-performance que são consideravelmente melhores do que aquelas dos tradicionais mainframes da IBM.

Esses novos sistemas representam, com efeito, um estágio intermediário entre os mainframes do passado e os sistemas baseados em microprocessadores do futuro. O sucesso para a DEC ou para a Tandem terá de vir às expensas de fornecedores de mainframes estabelecidos, como a IBM. Se esses sistemas ganharem aceitação, irão meramente pavimentar a estrada para sistemas ainda mais agressivos e ainda menos tradicionalmente projetados, construídos em torno de microprocessadores padronizados.

Esperemos que os tipos machos aproveitem o breve momento das luzes dos spots! Eles não tem jeito de fazer muito mal a qualquer um, exceto a eles mesmos, e podem ajudar a esclarecer coisas para que os muito tapados entendam que a revolução dos micros não significa apenas computadores pessoais.

Quando tudo estiver dito e feito, a recente onda de machismo do mainframe será lembrada --- se afinal tiver que ser lembrada --- como pouco mais que um pequeno redemoinho na corrente que está levando a indústria para uma nova era. Nada mais é do que o grito daqueles que parecem não estar aptos nem a brigar nem a fugir. Para nós que restamos, a substituição dos sistemas tradicionais oferece uma tarefa desafiadora cujas recompensas sobrepujarão as disponíveis para os mainframers, condenados a passar à extinção.