INTRODUÇÃO

"AQUI HÁ UM MONTE DE CRIMES" resmungou meu sogro quando se mudou de Iowa para a Califórnia. E havia: No jornal que ele lia. É um jornal que não deixa passar um crimezinho na Califórnia, e que devotaria muito mais espaço a um crime cometido em Iowa do que os maiores jornais de lá.

A conclusão de meu sogro era estatística, de maneira informal. Baseava-se numa amostra, uma amostra extraordinariamente tendenciosa. Como muitas outras estatísticas infinitamente mais ambiciosas e sofisticadas, sofria do mal da pré-indicação: considerava que o espaço devotado por um jornal ao crime era uma medida da taxa de criminalidade.

Alguns invernos atrás, uma dúzia de investigadores apresentou independentemente números sobre pílulas anti-histaminicas. Cada um demonstrou que uma considerável percentagem de resfriados curava-se após o tratamento. Criou-se uma grande onda, pelo menos nos anúncios, e iniciou-se mais um "lançamento de sucesso" de um produto médico. Baseava-se numa esperança sempre ressuscitável, e também numa curiosa recusa de examinar as estatísticas passadas sobre um fato já bem conhecido, de longa data. Como o humorista Henry G. Felsen (que não tem qualquer pretensão de ser autoridade médica) indicou recentemente, "um resfriado adequadamente tratado dura sete dias, mas deixado a si mesmo, cura-se em uma semana".

Assim sucede com muito do que se lê ou se escuta. Médias, relações, tendências, gráficos, tabelas, nem sempre são o que parecem. Pode haver neles mais do que aparenta, mas pode também haver muito menos.

A linguagem secreta da Estatística, com tanto apelo à nossa cultura "baseada em fatos", é empregada para sensacionalizar, inflar, confundir e supersimplificar. Métodos e termos estatísticos são necessários para relatar os dados das tendências sociais e econômicas, das condições dos negócios, da "opinião", das pesquisas, dos censos. Mas sem redatores que utilizem as palavras com honestidade e compreensão, e sem leitores que saibam o que significam, o resultado só poderá ser o absurdo semântico.

Nos escritos populares sobre assuntos científicos, a maltratada Estatística está quase substituindo a figura do herói de guarda-pó branco, esbaforindo-se sem parar, sem ganhar horas-extras, num sombrio laboratório. A Estatística se parece cada vez mais com o cosmético barato que tenta tornar atraente a amarfanhada cortesã. Uma estatística bem embrulhada, melhor ainda que a "grande mentira" de Hitler,(*) leva a falsas conclusões, mas ninguém pode acusar o seu utilizador.

Este livro é uma espécie de cartilha de como utilizar a estatística para enganar. Pode parecer muito com um Manual para Vigaristas. Talvez eu possa justificá-lo como se fosse um arrombador aposentado, cujas reminiscências publicadas equivalessem a um curso de formação de arrombadores de fechaduras com abafamento do som das marteladas: os criminosos já conhecem estes truques; são os homens de bem que precisam aprendê-los, para sua autodefesa.

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(*) O idéia de que "Não importa o tamanho da mentira; Contanto que seja repetida constantemente, será aceita como verdade", embora utilizado por Hitler, tem origem antiquíssima, e aplicação universal e sempre atual (N.T.)