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Há terror nos números. Humpty-Dumpty dizia a Alice que as palavras que usava significavam o que ele queria que significassem, nem mais nem menos. Mas poucas pessoas há que tenham a coragem de estender esta elasticidade aos números. Talvez soframos de um "trauma de respeito" induzido pela aritmética aprendida na escolinha pública.

Seja qual for a causa, ela cria um problema para o escritor que deseja ser lido, para o publicitário que espera que seu texto venda mercadoria, para o editor que deseja que seus livros ou revistas sejam populares. Quando os números dispostos tabularmente forem tabu, e as palavras não trabalharem bem, como geralmente sucede, só há uma resposta: 'desenhe uma figurinha.'

A figurinha estatística (ou gráfico) mais simples é a da variedade linear. É muito útil para demonstrar tendências, algo que praticamente todos têm interesse em mostrar, ou conhecer, ou descobrir, ou deplorar, ou adivinhar. Vamos deixar nosso gráfico mostrar como a renda nacional aumentou dez por cento em um ano.

Comece pegando papel quadriculado. Ponha os meses embaixo. Indique bilhões de dólares ao lado. Marque seus pontos e junte-os com uma linha, e seu gráfico ficará parecido com isto:

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Este está bem claro. Mostra o que aconteceu durante o ano, e o mostra mês a mês. Pode ser visto e compreendido, porque o gráfico inteiro está proporcional e há uma linha do zero embaixo, para comparação. Os dez por cento parecem mesmo dez por cento - uma tendência ascencional que é substancial, mas não chega a ser espantosa.

Isto é ótimo, se tudo o que você pretende é prestar informação. Mas suponhamos que você queira ganhar uma discussão, dar um choque no leitor, ativar um eleitor, vender alguma coisa! Para isso, o gráfico não tem pimenta. Corte-lhe a base:

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Agora, sim, a coisa está melhor! (Você também poupou papel, um bom argumento. para algum enjoado que venha a reclamar.) Os números são os mesmos e a curva tambem. É o mesmo gráfico. Nada foi falsificado - exceto a impressão que ele dá. Mas o que o leitor apressado vê agora é uma linha de renda nacional que subiu pela metade do papel em doze meses, tudo porque a maior parte do gráfico não está mais aqui. Como as partes da oração ocultas por elipse, que você aprendeu no ginásio, e que, se bem que ocultas, não impedem a compreensão. Claro que o olho não compreende o que não está ali, e um pequeno aumento tornou-se, visualmente, grande.

Agora que você treinou como enganar os outros. por que parar na técnica da truncagem? Existe outra técnica disponível, que vale dez vezes mais, e fará com que sua modesta ascensão de dez por cento tenha uma aparência ainda mais viva do que um aumento de cem por cento teria produzido. É só mudar a proporção entre a ordenada e a abcissa. Não há regra nenhuma que impeça isto, e seu gráfico terá uma aparência bem mais estética! Só precisamos convencionar que cada quadrinho no lado passe a representar apenas um décimo de dólar e não um dólar inteiro.

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Agora está impressionante, não? Qualquer um que olhe para esta tabela poderá sentir a prosperidade latejando nas artérias vitais da nação! É um equivalente mais sutil do texto: "Renda nacional sobe dez por cento", transformado em "Dispara vertiginosamente, atingindo a culminância de dez por cento!" É vastamente mais eficiente, não contém adjetivos, advérbios ou palavras que prejudiquem a ilusão de sóbria objetividade. Nada há que possam acusar você.

E você estará em boa (ou, pelo menos, respeitável, companhia). O 'Newsweek' usou este método para mostrar que "Ações atingem um ápice de 21 anos", em 1951, truncando o gráfico na linha dos 80. Um anúncio da Columbia Gas System no Time em 1952 reproduziu um gráfico "de nosso relatório anual". Lendo-se e analizando-se os numerozinhos, descobre-se que num periodo de dez anos o custo de vida subiu cerca de 60% e o preço do gás somente 40%. Este é um quadro favorável, mas ao que parece não era ainda bastante favorável, na opinião da companhia. Cortaram seu gráfico nos noventa por cento (sem rasgos ou interrupções para avisar os incautos) de modo que seu olho lhe dirá: O custo de vida mais que triplicou; o preço do gás desceu de um terço!

Companhias de aço também têm usado esses recursos enganosos para tentar engambelar a opinião pública contra aumentos salariais. Entretanto, o processo está longe de ser novo, e sua falsidade foi demonstrada há muito tempo - e não somente em publicações técnicas para uso de estatisticos. Um redator editorial na Dun's Review de 1938 reproduziu um gráfico de uma notícia, advogando anúncios em Washington, D.C., o argumento sendo muito bem expresso no título acima do gráfico: "Despesas com funcionarismo sobem!" A linha no gráfico combinava bem com o ponto de exclamação, ainda que os números escondidos atrás da linha não o fizessem. O que mostravam era um aumento de cerca de 19,5 milhões para 20,2 milhões. Mas a tal linha vermelha saltava de junto da base do gráfico até bem no seu topo, fazendo com que um aumento inferior a quatro por cento parecesse mais de 400. A Dun's Review dava sua própria versão gráfica dos mesmos números ao lado - uma linha vermelha honesta, que só subia realmente quatro por cento, sob este titulo: "DESPESAS COM FUNCIONALISMO ESTABILIZADAS."

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A Collier's usou este mesmo tratamento com um gráfico de barras, em anúncios pelos jornais. Note especialmente que o meio do gráfico foi cortado fora:

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