PADRÃO-OURO: antigo e obsoleto sistema através do qual as moedas tinham o ouro como padrão de referência.

Por exemplo, de 1935 até 1967, 1 dólar valia 0,88 g de ouro puro ("1 fine ounce troy per US$ 35.00"), ou seja, poderíamos trocar US$ 1,00 por 0,88 g de ouro no Tesouro Americano. Essa conversibilidade, no entanto, foi extinta em 1971, quando De Gaulle, não aceitando o dólar como padrão internacional, pois seria submeter a França aos EUA, começou a trocar suas reservas por ouro, e acabando com o pouco lastro que os EUA possuíam. Aí então Nixon decidiu mudar subitamente as regras do jogo, repudiando unilateralmente o compromisso assumido com os demais países de trocar seus dólares por ouro.

O interesse que ainda existe no padrão-ouro é que era usado, antigamente, para explicar a inflação. Vejamos como.

Suponhamos que um dólar seja uma moeda com 0,88 g de ouro. Se, precisando de mais dinheiro (como nas guerras), o governo cunhar moedas com 0,44 g cada, poderá, com o mesmo ouro, ter o dobro de moedas que tinha antes, ou seja, dobraria a sua "fortuna". Entretanto, como os comerciantes faziam as contas em gramas de ouro e não em moedas de 1 dólar, os preços também dobrariam, ou seja, haveria inflação.

Para compreender melhor por que o padrão-ouro foi extinto (embora alguns ainda raciocinem com ele), precisamos fazer um breve retrospecto da História da Moeda.


Com a necessidade de trocar o que sobrava pelo que faltava, o homem criou desde cedo uma mercadoria de referência, para facilitar as transações. Assim, o boi foi uma moeda romana, e um lote de terra podia valer 30 bois ("Boi" em latim é "pecu", de onde vieram os termos "pecunia" = dinheiro, "pecuniário", "peculato" etc.). Outra moeda que os romanos chegaram a usar para pagar os seus soldados foi o sal (donde a palavra "salário").

Entretanto, o ouro logo se impôs como a mercadoria ideal para ser usada como moeda, pois era:

Carregar ouro no bolso, no entanto, além de pesado, era arriscado, pois as estradas viviam cheias de assaltantes (a riqueza era muito concentrada naqueles tempos). Os comerciantes começaram, então, a confiar seu ouro aos ourives e joalheiros, que possuíam cofres seguros. Em troca, recebiam um pedaço de papel chamado "Certificado de Custódia de Ouro", como ainda hoje se faz nas Bolsas de Mercadorias (Commodities). Como esses Certificados eram nominais, poderiam até ser roubados, pois os ladrões não conseguiriam trocá-los novamente por ouro. Essa moeda de papel com lastro ouro passou a ter uso generalizado: era a moeda fiduciária ("moeda de confiança").

Entrementes, com o passar do tempo, os ourives foram percebendo que só uns 10% do ouro custodiado era de fato movimentado pelos seus proprietários, ficando o restante permanentemente em seus cofres. Surgiu, então, a "brilhante" idéia de emprestar a juros esses 90% restantes, emitindo assim mais Certificados. Apareceu, desse modo, o papel-moeda, também uma moeda fiduciária que, embora sem lastro total, era garantida pelo ourives, nos quais todos depositavam confiança (em latim esta palavra é "fiducia", donde o termo "fiduciário"). O papel-moeda, da mesma forma que a moeda-papel, poderia ser convertido em ouro a qualquer instante, sob solicitação, desde que não chegassem todos ao mesmo tempo. 6

Embora no começo esses papéis sem lastro fossem sendo emitidos lenta e receosamente, acabou por virar rotina, pois propiciavam enormes lucros para os ourives, agora já travestidos em banqueiros.

Com o desenvolvimento do Estado, após a Renascença, os Governos passaram a controlar os Bancos, pois o poder político destes chegava a ser maior que o do próprio rei ou imperador, como ocorreu com os Rothschild's. 7

O lastro-ouro, por sua vez, embora impedisse os governos de emitir papel-moeda indiscriminadamente, tinha um grande inconveniente: se o país crescesse e precisasse de mais dinheiro para as suas operações comerciais e industriais, teria que obter mais ouro, quer exportando seus bens, explorando suas minas ou invadindo militarmente outros países ou regiões, como ocorreu no Brasil após 1500. Caso não o conseguisse, ficaria com sua economia asfixiada.

O tiro de misericórdia nesse sistema foi dado com a Crise de 1929, quando todos correram para os Bancos para trocar suas cédulas por ouro, o que era evidentemente impossível. Daí por diante, as moedas foram se tornando inconversíveis, apenas os Governos podendo emiti-las. Não tinham mais lastro e deveriam ser encaradas como dinheiro por força de lei. Nos EUA, chegou mesmo ser crime possuir ouro.

Desse modo, uma cédula, hoje em dia, não passa de um autêntico cheque sem fundos emitido pelo Governo, que deve ser aceito por todos porque ele assim o determinou. Não é sem razão que Galbraith afirmou, certa feita, que "Se alguém estiver planejando fazer uma revolução ou uma guerra, precisará apenas de três coisas: um bom pretexto, um exército treinado e uma oficina gráfica. . ." 8

O quadro abaixo traça um resumo da evolução da moeda até os dias futuros.

CRONOLOGIA DA MOEDA
Estágio Tipo de moeda
Tribal Não existem moedas; há apenas o escambo: troca de mercadorias por mercadorias diretamente
Agrícola Boi, sal, fumo etc.
Mercantil Moeda metálica: ouro, prata, cobre. Padrão ouro
Pré-industrial Moeda metálica.
Moeda fiduciária: moeda-papel com lastro total (Cert. de Custódia de Ouro)
Industrial Moeda fiduciária: papel-moeda (lastro parcial)
Moeda escritural: cheque bancário lastreado em papel-moeda
Monopolista Moeda legal (sem lastro): cédulas inconversíveis
Moeda escritural
Pós-industrial (futuro) Extinção da moeda, que se reduzirá a meras informações armazenadas em discos magnéticos de computador. As operações se realizarão via cartões de crédito, de compras, terminais bancários, computadores domésticos, transferência eletrônica de fundos etc. É o chamado "dinheiro eletrônico".

 


5
Segundo Heródoto (Livro I, XCIII), "Todas as jovens, na Lídia, se entregavam à prostituição. Com isso, formavam o dote e continuavam no negócio até se casarem, cabendo-lhes o direito de escolher o esposo. De todos os povos dos quais temos conhecimento, foram os Lídios os primeiros a cunhar moedas de ouro ou de prata." Isto se deu no séc. VIII a.C.

6
Em 1981, os bancos mantiveram 2,2% dos depósitos em Caixa, recolheram 21% ao governo (por lei) e emprestaram a juros os restantes 76,8%.  (V. IBGE, Balanço consolidado dos Bancos).

7
Os primeiros Bancos públicos datam de 1609.

8
A História da Moeda pode ser encontrada em Galbraith (185) e (186, Cap. 6.). Notemos que, a partir da criação da moeda legal, esta deixa de ser uma mercadoria ou bem, para se transformar em simples declaração de crédito ao portador (cédulas) ou nominal (cheque e dinheiro eletrônico).

Veja também Davies, Glyn., "A History of Money From Ancient Times to the Present Day", rev. ed. Cardiff: University of Wales Press, 1996. 716 pages. ISBN 0 7083 1351 5 (paperback). Originally published in 1994 and reprinted in November 1995, as a hardback of 696 pages, ISBN 0 7083 1246 2.