INFLAÇÃO NOS PAÍSES SOCIALISTAS: nos países capitalistas, os produtos escassos são geralmente distribuídos às pessoas mais ricas, devido ao mecanismo da inflação. Nos socialistas, em contrapartida, o controle do governo não permite que os preços se alterem muito, o que não significa, entretanto, que tenham resolvido o problema da escassez. Esta, na realidade, se manifesta não somente através dos preços, mas também de outras formas.

O Prof. Seurot conseguiu identificar sete dessas manifestações, as quais são a seguir mencionadas (187, p. 16):

1. Inflação de preços: quando, por decisão do governo (GOSPLAN), os preços oficiais sofrem aumento. Os dados a seguir mostram as taxas vigentes em 1980, em alguns países:

Alemanha 0,7% Polônia 7,8
URSS 1,0 Hungria 8,9
Checoslováquia 1,8   Bulgária 13,9
Romênia 1,9  

2. Racionamento: quando se formam longas filas para a aquisição de produtos escassos. É a "inflação reprimida".

3. Economia subterrânea: quando se estabelecem mercados livres não oficiais, em contraposição aos circuitos dos supermercados estatais e das cooperativas (kolkozes).

Para citar um exemplo, as obras da escritora francesa Georges Sand, em dois volumes, novos, são vendidas (quando existem) ao preço oficial de 4 rublos (US$ 2,90) mas, quando usados, custam 75 rublos (US$ 54) no mercado paralelo. "Os três mosqueteiros" de Dumas, novo, oficialmente a 1,7 rublos (US$ 1,20), atinge 25 rublos (US$ 18) no mercado de segunda mão ("sebos"). Esses mercados paralelos, (b) e (c) abaixo, correspondem a cerca de 20% do consumo físico total na URSS (225) (187) .

De uma maneira geral, os mercados na União Soviética podem ser classificados em três tipos:

(a) Mercados legais (oficiais):

Mercado vermelho: corresponde ao circuito das lojas estatais, com os preços estabelecidos pelo governo.

Mercado rosa: onde os consumidores podem, eventualmente, modificar os preços oficiais; é formado pelo comércio de objetos usados nas lojas especializadas do Estado;

Mercado branco: feiras-livres das cooperativas (kolkozes);

(b) Mercados cinzentos (semilegais): transações ilegais que são toleradas pelas autoridades. Exemplos:

Uma empresa, em dificuldades para atingir suas metas, adquire a produção que falta em outra empresa similar;

Serviços de reparos domésticos feitos por "autônomos" (eletricistas, pedreiros etc.);

Aulas particulares;

(c) Mercados ilegais:

Mercado marrom: a atividade não é considerada criminosa, embora esteja sujeita à repressão. Exemplo: Venda de produtos em falta no mercado oficial;

Mercado negro: o comércio é criminoso. Exemplos:

Aluguel de caminhões do Estado para transportar cargas particulares.
Revenda de gasolina comprada em postos do governo.
Venda de objetos roubados.

4. Poupança forçada: por não ter onde gastar os seus salários, os trabalhadores acabam guardando o seu dinheiro numa proporção maior do que aquela que desejariam.

5. Lojas de departamentos privilegiadas: onde apenas os estrangeiros (diplomatas, turistas) e as personalidades (altos funcionários e membros do Partido Comunista) podem adquirir produtos de primeira qualidade a preços baixos (esse consumo é vedado à população em geral). A lista desses privilegiados é chamada de "Nomenklatura" na União Soviética (143).

6. Pagamento antecipado: no caso de bens duráveis em falta, o pagamento pode ser feito com antecedência, como garantia de entrega. É o crédito às avessas.

7. Subvenções oficiais: para a manutenção da estabilidade dos preços no mercado vermelho.

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Nota: Naturalmente, esses dados se referem aos antigos países comunistas.