UM BALANÇO CONTÁBIL INDEXADO

O Balanço Contábil Indexado consiste na elaboração de um Balanço onde os dados monetários ($) são transformados em valores indexados, isto é, os $$ são todos divididos pelo mesmo índice da data do lançamento. O lucro (ou prejuízo) assim apurado é real, ou seja, não está afetado pela inflação. Essa prática (199) procura eliminar um erro conceitual existente na Contabilidade usual, onde os $$ em datas diferentes são somados, como se não houvesse inflação. Isto faz com que o Balanço fique distorcido, levando a decisões incorretas quando utilizado. Vejamos um exemplo, onde um lucro (aparente), obtido pelas práticas contábeis usuais, se transforma em um prejuízo (real), através da indexação do Balanço.

BALANÇO CONVENCIONAL

Suponhamos que uma empresa tenha adquirido mercadorias em 5-10 por $ 730.000, e as vendido em 20-12 por $ 1.500.000. Esses lançamentos seriam normalmente feitos da maneira abaixo:

CAIXA
(Em $ 000)
Data Histórico D C
1-10 Saldo anterior 1.000  
5-10 Compra mercad.                       730
20-12 Venda mercad. 1.500  
31-12 Saldo   1.770

 

ESTOQUES
(Em $ 000)
  Histórico D C
1-10 Saldo inicial                             3.100  
5-10 Compra 730  
20-12 Venda   730
31-12 Saldo final   3.100

 

LUCROS E PERDAS
(Em $ 000)
De 1-10 a 31-12
Item D C
Receitas de Vendas   1.500
Custo da Merc. Vendida                     730  
Saldo (Lucro nas vendas) 770  

 

BALANÇO CONTÁBIL
(Em $ 000)
  Em 1-10 Em 31-12
Contas A P A P
Caixa 1.000   1.770  
Estoque 3.100   3.100  
Capital   4.100   4.100
Lucros e Perdas (Lucro)       770
Total 4.100 4.100 4.870 4.870

Assim, o resultado corresponde a um lucro de $ 770.000 nesse período.


Vejamos, agora, a mesma análise quando se usa um Balanço Indexado.

BALANÇO INDEXADO

Para tanto, devemos primeiramente escolher um índice de inflação. Uma má escolha pode anular as vantagens dessa técnica.

De todos os índices existentes, o IPA-DI da FGV é o melhor, pois reflete a inflação dos produtores e das empresas. O dólar não serve como índice, pois além de estar sujeito à inflação americana, também sofre maxi-desvalorizações; além do mais, também não acompanha a inflação brasileira.

Fechando, agora, o mesmo Balanço, porém indexado, e usando os valores do IPA-DI nas datas de lançamento:

IPA em out: 22.195,0                         IPA em dez: 27.150,8

obtemos:

CAIXA
(Em IPA)
    D C Notas
1-10 Saldo                              45,06   1.000.000 / 22.195,0
5-10 Compra   32,89 730.000 / 22.195,0
20-12 Venda 55,25   1.500.000 / 27.150,8
31-12 Perdas   2,23 Ajuste do Saldo
31-12 Saldo   65,19 1.770.000 / 27.150,8

O item Perdas Inflacionárias de Caixa corresponde ao ajuste necessário para que o Saldo em IPA equivalha ao saldo efetivo de $ 1.770.000 em Caixa. Sua contrapartida vai para a Conta de Lucros e Perdas (débito), sob a rubrica Perdas Inflacionárias. Notemos, também, que, como agora todos os valores estão indexados, é correto somá-los quando se referirem a datas diferentes.

ESTOQUE
(Em IPA)
    D C Notas
1-10 Saldo 139,67   3.100.000 / 22.195,0
5-10 Compra                           32,89   730.000 / 22.195,0
20-12 Venda   26,89 730.000 / 27.150,8
31-12 Perdas   31,49 Ajuste do Saldo
31-12 Saldo   114,18 3.100.000 / 27.150,8

 

LUCROS E PERDAS
(Em IPA)
De 1-10 a 31-12
  D C
Receitas das Vendas   55,25
Custo da Merc. Vendida                    26,89  
Perdas Inflacionárias    
.....Caixa 2,23  
.....Estoques 31,49  
Prejuízo nas Vendas   5,36

 

BALANÇO EM IPA-DI
  Em 1-10 Em 31-12
  A P A P
Caixa 45,06   65,19  
Estoque 139,67   114,18  
Capital   184,73   151,01
Perdas Inflacionárias       33,72
Lucros e Perdas (real)       (5,36)
Total 184,73  184,73  179,37  179,37

Como podemos observar, o lucro aparente de $ 770.000 se transformou em um prejuízo real de 5,36 IPA.


BALANÇO EM VALORES CONSTANTES

Há quem prefira, no entanto, a apresentação desse mesmo Balanço em $, por ser mais fácil de interpretar, já que valores em IPA são pouco utilizados. Isto é simples de se conseguir. Basta escolher qualquer mês de referência (por exemplo, dezembro) e multiplicar os valores dos Balanços em IPA, pelo IPA deste mês (27.150,8). Teremos, assim, os Balanços em $$ constantes de dezembro, ou seja, passamos de Balanço indexado em IPA para Balanço em $$ constantes de dezembro, sendo ambas formas de indexação.

Os Balanços abaixo mostram o resultado dessa conversão:

BALANÇO
Em 1-10 e 31-12 ($ 000 ctes. de dez)
  A P A P
Caixa 1.224   1.770  
Estoque 3.792   3.100  
Capital   5.016   4.100
Perdas Inflacionárias       916
Lucros e Perdas (real)            (146)
Total 5.016  5.016  4.870  4.870

 

LUCROS E PERDAS
De 1-10 a 31-12 ($ 000 ctes. de dez)
  D C
Receitas de Vendas   1.500
Custo da Merc. Vendida                                 730  
Perdas Inflacionárias:    
........Caixa 60  
........Estoque 856  
Prejuízo real   146

Notamos, novamente, o aparecimento de um prejuízo real de $ 146.000, enquanto que no Balanço não indexado o lucro (aparente) era de $ 770.000.

A perda inflacionária é de $ 916.000, indicada no Passivo. Esta perda somada ao capital de 4.100 fornece o capital de $ 5.016 em 1-10. Houve, portanto, descapitalização da empresa.

As perdas, por sua vez, foram originadas nos estoques ($ 856) e no Caixa ($ 60).

Quanto à incidência do IRPJ, no Balanço comum a empresa deverá recolher IR, pois houve lucro (aparente). No indexado não haverá imposto a pagar, pois houve prejuízo (real). De fato, o recolhimento do IR apenas iria aumentar a descapitalização da empresa.

Observação:

A primeira empresa no Brasil a publicar balanços indexados foi a VASP.