APÊNDICE 10

TENDÊNCIAS MODERNAS DA ECONOMIA


O mundo real constantemente espanta
o economista tradicional.
O desemprego cresce junto com a inflação.
Os cartéis aumentam, ao invés de se desintegrarem.
O comportamento dos sindicatos não é uniforme.
As políticas monetária e fiscal
às vezes funcionam, às vezes não.

Robert Lekachman
("Economists at Bay", p. 185)


As obras de Marx foram escritas há mais de 100 anos.
Não podemos esperar que seus escritos proporcionem
soluções aos nossos problemas atuais.

Diário do Povo
(Órgão Oficial do Partido Comunista Chinês, 7-dez-84)

Tanto a Ciência Econômica como as demais estão em constante evolução, sendo que, de tempos em tempos, uma grande inovação acontece -- como a de Adam Smith, Marx e Keynes -- dando início a nova fase evolutiva.

As dez tendências apontadas a seguir mostram a evolução verificada no mundo de hoje, em grande parte motivada pela concordata em que entraram as teorias dos três economistas acima.

Talvez uma dessas tendências venha a dar origem a uma inovação no pensamento econômico, como foi, a seu tempo, o classicismo, o marxismo e o keynesianismo, trazendo novas soluções aos problemas surgidos nas últimas décadas.

Tendências Modernas

1. Teoria do Capital de Cambridge

Combinação da teoria tradicional (neoclássica) com o marxismo.

Representantes dessa tendência:

2. Economia Radical

Enfoque neomarxista. Também chamada de "Economia da Nova-Esquerda". Pertencem à "Union of Radical Political Economy", com sede na Universidade de Michigan. Criada em 1968, tem na "Monthly Review", de Baran e Sweezy, a sua publicação oficial. Denunciam todos os problemas que a ciência econômica oficial se nega a estudar, tais como os monopólios, as desigualdades, a poluição, o sexo, o racismo, a indústria da guerra etc. Para eles, a luta de classes é o motor essencial da História, e o centralismo burocrático dos regimes comunistas é tão condenável quanto as injustiças capitalistas. As principais diferenças da Nova-Esquerda com relação ao marxismo ortodoxo são:

Os soviéticos, ortodoxos, os denominam "Revisionistas de Direita", enquanto que os maoistas chineses, que não seguem a Escola Radical, são chamados "Revisionistas de Esquerda".

Principais representantes dessa tendência:

3. Teoria e Dinâmica dos Sistemas Aplicados às Ciências Sociais

Aplicação da Teoria Geral dos Sistemas e da Cibernética à Economia e à Política.

Autores:

4. Teoria da Assessoria Política

Uso de técnicas empresariais voltadas para a tomada de decisões, usando a metodologia da Análise de Sistemas.

5 . Teoria Econômica da Política 49

Combinação da Economia Neoclássica com a Ciência Política.

Principais contribuições:

6. Política Econômica Aplicada

Teoria econômica tradicional (neoclássica) com ênfase em sua aplicação prática no meio político. Enfoque utilizado pelo Conselho de Consultores Econômicos dos EUA.

Proponentes típicos desse movimento:

7. Escola Institucionalista

Procura tratar o Capitalismo Monopolista como a regra geral, e não como exceção, como faz a Teoria Neoclássica. Baseia-se na constatação de que o "consumidor soberano" está sendo substituído pelo consumidor condicionado pela propaganda, o que significa o desaparecimento do tradicional conceito de Livre Concorrência e de Mercado Regulador. Enfatiza, igualmente, a passagem do controle da grande empresa das mãos do acionista para as da tecno-estrutura (executivos e especialistas). Também chamada de Teoria do Capital Monopolista. Seus seguidores são denominados "Economistas Heterodoxos". Veblen (†1929) é considerado seu fundador. Se fazem representar pela Association of Evolutionary Economists.

Principais representantes:

8. Nova Economia Política

Resultante da combinação da economia não-ortodoxa com a Teoria Econômica da Política. Procura constante confronto entre a Teoria e a Realidade, através da análise dos dados estatísticos. Busca também simplicidade, não utilizando o "economês".

O criador desse enfoque é:

9. Monetarismo

Trata-se de um movimento de volta ao classicismo, conforme explicado por Galbraith (125, p.17):

Foi para mim uma grande surpresa verificar que uma nova geração de cavadores de túmulos, de ladrões de sepulturas, procurou os cemitérios para desenterrar Adam Smith, David Ricardo e Alfred Marshall e, num grande e sombrio cortejo fúnebre, liderado por Milton Friedman, marcham agora sob um estandarte carregado por Ronald Reagan. Isto eu não previ, e sinto profundamente não ter sido capaz de fazer tal previsão, ou avaliar nossa capacidade de realizar tal exercício, aquilo que eu chamo de violação de sepulturas...

As idéias defendidas por Friedman (e, em boa parte, também pelo FMI) envolvem a defesa de uma total liberdade de ação por parte dos mercados, consumidores e produtores, sem quaisquer interferências do Estado. 50

Isto pode ser melhor entendido observando quais são as atividades condenadas pelos monetaristas, seguidores da Escola de Chicago (126), de cuja Universidade têm saído inúmeros economistas brasileiros, inclusive alguns ex-ministros:

Uma variante do Monetarismo é a "Política Fiscal do Lado da Oferta" ("Supply Side Economics"), também chamada de "Reaganomia". Consiste no seguinte raciocínio econômico:

Como diria Sherman (2, Cap. 9), "Enquanto que os keynesianos reduzem os impostos dos pobres para aumentar a demanda, os reaganomistas diminuem os impostos dos ricos para aumentar a oferta".

O raciocínio acima, embora bastante lógico, não funcionou na prática, a exemplo de tantas outras argumentações usadas em Economia, ocasionando o pedido de demissão de David Stockman, diretor do orçamento e braço direito de Reagan, em junho de 85. Embora os impostos tenham sido reduzidos em mais de 750 bilhões de dólares em 1981, o déficit americano pulou para US$ 200 bilhões em 1984, ano que Reagan prometeu zerá-lo. E a dívida total ultrapassa 1 trilhão de dólares (219).

Não há dúvida de que Friedman apresenta várias idéias interessantes, de uma total liberdade individual, combinada com uma ampla desestatização da economia (151). Parece, no entanto, que, na medida em que "A liberdade de cada um termina onde começa a do seu semelhante", o crescimento populacional das sociedades modernas faz com que essa liberdade vá sendo gradativamente reduzida, em benefício da coletividade, onde intervém o Estado para manter a estabilidade do sistema, como proposto por Marx em 1867 e por Keynes em 1936. Entretanto, segundo o Prof. Vacca (153), essa intervenção tem um limite, a partir do qual a governabilidade do Grande Sistema se degrada irreversivelmente e, por um processo explosivo, se secciona em inúmeros micro-sistemas autônomos, como ocorria na Idade Média, desfazendo-se então a enorme complexidade até aí reinante. A liberdade individual seria plenamente restaurada e o Estado semi-extinto, reiniciando um novo ciclo. É possível que, nessa hora, o Monetarismo voltasse triunfante para as micro-colônias recém-formadas.

10. Teoria das expectativas racionais

Embora tendo evoluído do Monetarismo, essa Teoria nega sua validade, ao afirmar que o resultado das Políticas Monetárias é o inverso do previsto pelas autoridades. Como exemplo, há o caso de o Banco Central aumentar as emissões para baixar as taxas de juros. Os capitalistas, esperando um aumento inflacionário daí decorrente, vendem seus títulos para investir nas Bolsas. Os novos títulos que forem emitidos deverão ser oferecidos a taxas de juros maiores, para poderem ser colocados no mercado. Assim, as taxas aumentam, ao contrário do previsto pelo Banco Central, fazendo fracassar a Política Monetarista. Robert Lucas, da Universidade de Chicago, é um de seus defensores (226).

Os novos problemas que surgem a partir dos anos 60, tais como a recessão, a inflação galopante e renitente, e a estagflação, provocam nova evolução da Ciência Econômica, que possui hoje dez tendências básicas:

As tendências mais cotadas atualmente são: a Radical, a Institucionalista e a Monetarista. Correspondem às ideologias de esquerda, de centro e de direita, respectivamente.


Notas:

49 Como conhecido na Europa. Nos EUA é chamada de "Escolha Pública". voltar ao texto
50 Veja a respeito "Milton Friedman ou a morte de Keynes" em Lepage (151), Cap.IX bem como "A solução liberal" (234). Para a critica, veja "A contra-revolução monetarista" (235) . voltar ao texto