APÊNDICE 5

O MONETARISMO E A EQUAÇÃO DE FISCHER


A escolha entre Monetarismo e Keynesianismo
ainda é um problema de estética.
M. H. Simonsen (Inflação: Grad. e Trat. Choque, p. 91)

O combate à inflação, preconizado pelos monetaristas, se baseia numa equação, a "Relação de Trocas de Fisher", que data de 1912.

Embora essa identidade, como é também chamada, ainda seja objeto de estudo, seu principal defensor, Milton Friedman, da Universidade de Chicago e prêmio Nobel de Economia de 1976, tem procurado por todos os meios demonstrar-lhe a veracidade. Às vezes, parece mesmo cometer exageros, como em dezembro de 1983, quando o Banco de Londres acusou-o de ter falseado a realidade, ao associar a inflação ao dinheiro em circulação, em seu livro "Tendências Monetárias" (99) .

Por outro lado, Maurice Lauré, o criador do ICM na França, ao analisar o caso dos países mais industrializados, concluiu pela "inutilidade dos esforços de constrição monetária" no controle da inflação. (68, p. 145).

No caso brasileiro, especificamente, um estudo de Maria Marques, da FGV, mostrou não haver relação de causa e efeito entre o dinheiro em circulação e a inflação (100).

De qualquer modo, como a equação de Fisher é muito usada para justificar políticas e atitudes (como as do FMI, por exemplo), iremos analisar, em seguida:

Como funciona a Equação de Trocas de Fisher

Consideremos o total de mercadorias que foram compradas durante o ano (Q), a um preço médio (P). O total de dinheiro gasto nessas compras foi P x Q. Mas, como o mesmo dinheiro foi usado várias vezes (V vezes), o total M necessário para essas compras passa a ser M = PQ / V, ou seja,

M.V = P.Q

que é a  "Relação de Trocas". A variável V é denominada de "Velocidade de Circulação da Moeda" e M são os "Meios de Pagamento" (M1 ou M2 ou M3 ou M4).

Como estamos interessados na relação entre a taxa de inflação { (Delta P) / P } e a variação relativa de M (dinheiro no bolso mais dinheiro em conta corrente nos bancos) dada por { (Delta M) / M }, precisamos calcular as diferenças finitas Delta. Fazendo então variar M, P e Q e mantendo V constante (isto é aproximadamente verdade na prática), vem:

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Como { V = P Q / M } obtemos:

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Usando letras minúsculas para indicar as taxas de variação em percentagem

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chegamos finalmente a:

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que é a relação de trocas sob a forma diferencial finita. Esta fórmula é um pouco diferente das usualmente encontradas nos livros, pois é comum usar derivadas nas deduções, o que, em situações de inflação alta, não é correto. Só se deve usar derivadas quando as variações (p, q, m) forem muito pequenas, o que não tem sido o caso brasileiro.

Exemplo de aplicação:

Suponhamos que o governo, para cobrir o déficit das empresas estatais, tenha fabricado (emitido) dinheiro em um montante igual a 60% do dinheiro já existente (meio circulante). Se a economia estiver crescendo a uma taxa anual de 4%, de quanto aumentarão os preços?

Solução:

Como o aumento percentual do meio circulante (um dado obtido com maior rapidez) geralmente coincide com o aumento percentual dos meios de pagamento m, podemos fazer m = 60%. Além disso, q = 4% e p é a incógnita. Aplicando a fórmula acima, vem:

p = (60 - 4) / (1 + 4/100) = 53,85% a/a

Assim, para cobrir esse déficit, a Teoria Monetarista prevê uma inflação de 53,85% durante o ano.

Suponhamos agora que a economia esteja em uma depressão de 10% a/a, e que m se mantenha nos 60% a/a. Para quanto irá a inflação?

Solução:

p = (60 + 10) / (1 - 10/100) = 77,78% a/a

Notemos, por outro lado, que, para que não haja inflação, os monetaristas recomendam que m = q como notamos na fórmula acima.

Se houver estagnação (q = 0) resultará m = p, ou seja, para não haver inflação o governo não deverá emitir moeda.

 

Capacidade de previsão da equação de Fisher

Como vimos, a fórmula é bem simples de ser compreendida e utilizada, donde a sua atratividade. Mas até onde seus resultados são confiáveis? Ou, em outras palavras, até que ponto o valor calculado (p% = IPC% previsto) se aproxima da taxa de inflação realmente constatada na prática (IPC% medido)?

No gráfico adiante fazemos essas verificações. O erro da previsão é dado por

Erro% = 100 (p% - IPC%) / IPC%

Traçando o gráfico de (p% = IPC% previsto versus ano), (IPC% medido versus ano) e (Erro% versus ano), podemos observar claramente que a equação de Fisher NÃO é um bom estimador da inflação. Com efeito, o erro de previsão oscilou entre -50% a +150% para o Brasil, e de -300% a +300% para os EUA.

Estes resultados confirmam o que já dizia Galbraith:

Se você ler que o meio circulante (M) aumentou ou diminuiu durante a última semana ou no mês passado, não deve dar qualquer atenção ao fato. Esses movimentos de curta duração não têm significado. Os "experts" discutem sua significação exatamente porque ninguém sabe qual a sua significação. (9, p. 82)

 

Teste da equação de trocas de Fisher

Fonte: CD ROM "World Development Indicators" do World Bank, Ed. de 1997
http://www.worldbank.org