CAPÍTULO 7

A INFLAÇÃO NO BRASIL, NOS EUA E NO MUNDO

 

Nós, os economistas, compensamos muita
incerteza de conhecimento por meio
de grande certeza em nossas declarações.

J. K. Galbraith
"A economia ao alcance de quase todos", Cap. 7

 

Os dois gráficos seguintes contam a História da Inflação brasileira e americana nos últimos anos.

Analisemos, inicialmente, o que aconteceu com a inflação brasileira (134).

Um aspecto que logo salta à vista é a regularidade de comportamento da inflação nos últimos anos. Parece até que as grandes empresas se "reuniram" em 1947 e combinaram entre si (um "acordo de cavalheiros") que as taxas iriam crescer à razão de 19% a/a por ano (isto é, 10%, 11,9%, 14,2% etc.). Como as taxas não podem crescer indefinidamente (pois se tornariam infinitas),em algum momento deveriam começar a baixar: é o que se chama de "Reversão das expectativas inflacionárias". Isso se deu em 1964.

Nesse ano, deve ter havido uma outra "reunião", onde foi combinado que a inflação iria então baixar, com uma desaceleração de 19% a/a por ano. E assim se deu.

Por volta de 1969, um terceiro "meeting" deve ter acontecido, quando então se decidiu reverter as expectativas: daí por diante, a inflação iria começar novamente a se elevar à razão de 20% a/a por ano.

Aqui aliás está a explicação por que o governo resolveu divulgar uma taxa de inflação de 15,6% em 73, quando o valor correto era bem maior (22,5%, segundo o BIRD). É que ele deve ter percebido que, se as taxas começassem a subir de novo, ninguém mais conseguiria segurá-las. Como, aliás, ocorreu mesmo.

É curioso notar que, nesses anos, as taxas foram subindo e descendo sem dar qualquer importância às medidas postas em prática para o seu controle. Dá a impressão de que "forças sobrenaturais ou ocultas" é que guiaram o fenômeno, de nada valendo as ações do governo, aí incluindo as recessões.

Um outro aspecto diz respeito aos valores das acelerações e desacelerações constatadas: os cabalísticos números de 19 e 20% (praticamente iguais entre si). Isto quer dizer que as empresas acharam que as taxas deveriam crescer (ou diminuir) sempre à razão de 19 a 20% a/a por ano.

Em 1964, com a "cirurgia econômica sem anestésico", a inflação cedeu 53% em apenas um ano, embora tenha levado sete anos para subir tudo isso.


O gráfico da inflação americana nos últimos anos mostra três períodos distintos:

É interessante ver como foram denominadas essas décadas (27, p. 740):

40-49: A guerra fria e a quente
50-59: A década americana
60-69: O aumento das expectativas
70-79: A decepção

A inflação americana, que chegou a 15,9% em 50, acabou se acalmando entre 59 e 64. Com a instabilidade gerada pela execução dos Kennedys (63-69) e a guerra do Vietnã (63-75), a inflação oscilou um pouco, chegando a 5% em 72. O primeiro choque do petróleo (73) empurrou-a para 20,9% em 74, e o segundo (79), para 14,9% em 79. Aí a economia entrou em recessão, e a inflação foi baixando, embora o déficit americano não pare de crescer. Neste particular, os EUA têm uma vantagem que nenhum outro pais do mundo possui: poder pagar as suas dividas externas imprimindo cédulas verdes.

ÍNDICES DE INFLAÇÃO
(IPC) em 1995 (% ao ano)
Japan 0.00 Greece 9.09
Finland 0.91 Indonesia 9.29
Panama 0.95 Slovak Republic 9.68
Iceland 1.71 India 10.07
Austria 1.74 El Salvador 10.18
Germany 1.74 Israel 10.24
Switzerland 1.74 Bolivia 10.69
Luxembourg 1.77 Nicaragua 10.84
Netherlands 1.79 Peru 11.04
Belgium 1.80 Slovenia 12.50
France 1.82 Dominican Republic 12.57
Norway 1.82 Egypt, Arab Rep. 15.76
Denmark 1.85 China 16.56
Sweden 2.50 Colombia 20.63
Ireland 2.73 Ecuador 23.11
Canada 2.75 Costa Rica 23.59
Argentina 3.32 Poland 26.92
United Kingdom 3.51 Hungary 28.33
United States 3.54 Algeria 29.84
Portugal 4.41 Romania 32.31
Australia 4.63 Mexico 35.54
Spain 4.88 Uruguay 42.29
Saudi Arabia 5.66 Iran, Islamic Rep. 49.36
Italy 5.79 Venezuela 59.95
Chile 7.91 Brazil 84.45
Guatemala 8.24 Turkey 93.38
South Africa 8.28 Russian Federation 196.69
Hong Kong 9.03 Ukraine 376.76
Czech Republic 9.05 Zaire 542.11

Fonte: World Indicators CD, www.wordbank.org

Note que os países de inflação mais baixa são geralmente desenvolvidos.