INTRODUÇÃO

A inflação é dos fenômenos sociais mais perversos -- e também mais antigos -- que já apareceu na face da Terra. Além de ser uma doença econômica que atinge a parte mais fraca do corpo humano -- o bolso -- também provoca uma redistribuição de renda das mais injustas. Ela tira do aposentado e dá para o empregado, da pequena empresa para a grande, da área privada para a pública, do trabalhador não sindicalizado para o sindicalizado, da dona-de-casa para o feirante e, de uma maneira geral, dos grupos sociais com menor poder de barganha para os de maior capacidade de negociação.

Como se faz com qualquer processo patológico, também devemos ter duas atitudes perante a inflação: conhecer suas causas, evitando que se manifestem, por um lado; e saber como combatê-la, caso venha a surgir, por outro.

Foi exatamente com esses dois objetivos em mente que este livro foi concebido. Além de procurar ser uma síntese do que se conhece hoje sobre o fenômeno, também mostra como os problemas do dia-a-dia, de ontem e de hoje, podem ser resolvidos, aí incluídos seus cálculos práticos. Neste sentido, pretende ser algo como que um Manual Prático da Inflação Brasileira, para ser usado tanto pela empresa como pelo consumidor, tanto no escritório como no lar. E pode servir, igualmente, como texto em cursos sobre a inflação, como tem sido nosso caso, na Fundação Getulio Vargas.

Não se destinando apenas ao especialista, mas também ao grande público -- profissional e amador -- foi escrito em linguagem comum, direta e sem rodeios, como convém ao cidadão do quase século 21.

Os conceitos e análises, por outro lado, foram mantidos os mais simples possíveis pois, como Einstein, acreditamos que as coisas, quanto mais complicadas forem, menos chances terão de expressar a verdade. E, como veremos, a inflação não é bem aquele bicho-de-sete-cabeças, como às vezes se pinta. Ao contrário, é tão-somente o resultado de uma disputa entre parceiros sociais na divisão de um bolo -- a renda global -- onde todos querem ficar com a maior parte, o que, evidentemente, é impossível, já que só existe uma parte maior.

Também nos preocupamos com o subjetivismo, tão comum em temas sociais. Realmente, como disse Joelmir Beting, "a Economia é uma área de conhecimento e informação dominada mais pelas versões que pelos fatos" (122). Desse modo, para nos mantermos mais do lado da realidade -- e dos fatos -- é que procuramos fundamentar e corroborar, sempre que possível, as opiniões emitidas. Isto é conseguido, além de eventuais demonstrações, reportando o leitor a mais de 200 referências bibliográficas. Tal foi o caso da citação acima, que pode ser encontrada na indicação nº 122 no fim deste livro.

Tencionamos, assim, basear as análises mais na documentação e nos fatos, do que na intuição e na memória.

As referências, suficientemente detalhadas para facilitar a sua obtenção pelo leitor interessado, têm também o objetivo de atenuar a enorme carência de informações profissionais e fidedignas de que é vítima o Brasil. Sem dúvida, esta situação de penúria de dados de boa qualidade só pode agir contra seu próprio desenvolvimento.

O Autor