Em defesa do teletrabalho para profissionais
web
Marco Aurélio Machado
http://webinsider.uol.com.br/vernoticia.php?id=1820
30/07/2003
Os empregadores fogem dos pesados encargos trabalhistas e transformam empregados em pessoas jurídicas. Melhor seria se reduzissem custos pela adoção ampla do trabalho à distância.
Ultimamente falamos muito
em empresas que permitem que seus funcionários trabalhem em casa, fora do
ambiente físico da empresa. Os nomes para isso podem ser teletrabalho,
processamento descentralizado, homeworking etc.
Realmente, a dura guerra da concorrência faz com que as empresas lutem a todo
custo para reduzir custos e conseqüentemente poderem praticar preços mais
competitivos. Hoje, aliado à qualidade dos serviços propostos, preço é fator
quase que crucial numa concorrência.
Assistindo um documentário sobre economia atual na TV, fiquei sabendo que o
Brasil é o país com maior carga de impostos e outras cobranças sobre os
empregados. Confesso que não me surpreendi, pois ter empregados, com todas as
obrigações trabalhistas em dia, é um ônus gigantesco para as empresas
brasileiras.
A primeira saída é contratar funcionários como prestadores de serviços. Muitas
empresas demitiram seus empregados para contrata-los novamente na figura de
autônomos ou empresas, onde o pseudo-empregado emite nota fiscal de serviço.
Para o empregador isso é ótimo, pois ele continua produzindo, continua com o
mesmo funcionário sem despesas de contratação ou treinamento de novos candidatos
e reduz pela metade seus custos com folha de pagamento.
Quem dança? Claro que o empregado. Os impostos a serem pagos com a emissão de
nota fiscal e as despesas com contador são iguais ou maiores que os descontos
normais no salário bruto de quem tem carteira assinada. E o que é pior, sem
recolher INSS nem FGTS, o que obriga o trabalhador a recolher INSS como autônomo
e ainda, se quiser ou puder, fazer um FGTS particular, depositando em qualquer
fundo de investimento ou poupança um valor mensal. Isso se ele quiser manter
seus benefícios futuros mesmo na condição de prestador de serviços.
Outra opção. Uma outra saída, mas que ainda não decolou no Brasil, é a
opção do empregado trabalhar de sua casa. O tal do teletrabalho.
É uma alternativa realmente viável para qualquer pessoa com um bom equipamento e
uma conexão banda larga, que hoje já está bastante acessível.
Sempre defendo que nós, profissionais da web, devemos utilizar os recursos e a
tecnologia que “pregamos” a nossos clientes. As facilidades do mundo digital
estão aí para reduzir distâncias, custos e propagar informação.
Mas brasileiro é desconfiado por natureza. Quebrar um paradigma em terras
tupiniquins não é nada fácil.
Considero extremamente interessante e produtivo que os funcionários trabalhem em
casa.
Vou tomar aqui como exemplo uma agência web. Trabalhei muitos anos numa das
maiores produtoras do país e muitas vezes levei alguma coisa para fazer em casa.
Leia-se fazer em casa – e não trocar as horas dentro da empresa para horas de
homeworking. Era apenas uma saída para dias em que a criatividade e raciocínio
não estavam funcionando bem durante o dia.
Então eu aproveitava o silêncio e tranqüilidade das madrugadas para fazer aquilo
que eu não havia conseguido durante o dia.
Conhecendo todos os processos que envolvem o dia-a-dia de uma produtora, funções
de criação, produção, animação e redação podem muito bem ser feitas de casa. Não
necessitam a presença física do funcionário na empresa. Claro que são bastante
produtivas as reuniões de briefing com o pessoal do comercial e com o próprio
cliente, pois esse feeling de cada projeto só ajuda na hora de criar uma
interface ou planejar o conteúdo do site.
A questão fundamental é como controlar cada fatia do projeto fazendo com que
tudo esteja caminhando bem e nos prazos definidos.
Dentro da empresa utilizávamos um sistema em nossa intranet, onde cada um
recebia as solicitações em seu e-mail, acessava o sistema e então tinha todas as
informações sobre o cliente, prazos, conteúdo, imagens, textos, etc. Terminado o
trabalho, informávamos ao sistema a conclusão da tarefa, horas despendidas e
comentários. Por e-mail, as pessoas responsáveis recebiam essa confirmação e a
coisa caminhava.
Então, se tudo acontecia digitalmente, sem a necessidade de estar pessoalmente
para receber determinada tarefa, qual a diferença de se trabalhar em casa?
Nenhuma. Pense como seria interessante trabalhar para uma agência de Belo
Horizonte, outra de São Paulo, uma de Curitiba. Ampliam-se os horizontes antes
fechados a apenas o mercado local.
Eu confesso que uma das maiores realizações profissionais minhas foi quando fui
contratado para reformular todo o site de uma agência de turismo dos EUA. Tudo
acertado via web. Reuniões por ICQ, MSN Messenger e tudo aconteceu no mais alto
nível de profissionalismo. Eu realmente pude ver que a tecnologia tinha
revolucionado as relações comerciais e pessoais. Não existia mais distância!
Agora, tente explicar essas possibilidades aos empresários. É a questão do medo,
da desconfiança, da incerteza. Paradigmas!
As empresas tendem cada vez mais a se tornarem caixas de contratos e não um
local para seus funcionários. Caminhamos, na minha opinião, para empresas
“dispersas”, onde as pessoas trabalham em diferentes locais, diferentes horários
e nem sempre para uma empresa apenas.
Os profissionais então vão ter que se adaptar. O mercado vai necessitar de
gerentes virtuais, com capacidade de gerenciar e controlar pessoas que eles não
podem ver e nem controlar em todos os aspectos. E o que vai reger isso tudo?
Confiança! [Webinsider]