Cliente é ponto fraco no banco on-line
por Ricardo Cesar
Valor Economico 30-mai-2005
É sabido que os bancos nacionais são
referência em uso de tecnologia da informação. A má notícia é que os hackers
brasileiros também estão entre os melhores do mundo em lançar mão de recursos
eletrônicos para perpetrar fraudes bancárias. Nos últimos anos, os criminosos
acompanharam o movimento das instituições financeiras e migraram dos canais
físicos para os virtuais. Segundo o Comitê Gestor da Internet, o número de
fraudes bancárias realizadas on-line cresceu 577% no país somente em 2004.
Há motivo para isso: de acordo com estimativas do FBI, em um assalto tradicional
a banco nos Estados Unidos são roubados, em média, US$ 15 mil e os assaltantes
têm 75% de chance de serem presos. Já nos crimes digitais bem-sucedidos o
faturamento médio é de US$ 1 milhão e o risco de prisão é de apenas 5%. Não há
dados equivalentes no Brasil, mas os especialistas concordam que as somas
envolvidas tendem a se tornar mais vultosas devido a uma mudança no perfil dos
hackers brasileiros: os criminosos profissionais estão tomando o lugar dos
adolescentes com espinha na cara que invadiam os sites apenas para deixar
mensagens.
Marcelo Fiori, diretor de tecnologia da Open Communications Security, empresa
especializada em combater fraudes bancárias via internet, afirma que todos os
grandes bancos nacionais já foram vítimas de um ataque chamado de "phishing", em
que e-mails falsos com a interface e logotipo igual ao da instituição financeira
induzem os clientes a revelar sua senha.
Para piorar, os hackers brasileiros estão na vanguarda do cibercrime também na
área bancária. Fiori conta que, em fevereiro, participou da RSA Conference,
evento do setor de segurança nos EUA, e notou que os ataques a internet banking
que foram discutidos como novidades já são velhos conhecidos no Brasil. "Lá fora
eles ainda não conhecem problemas que enfrentamos há seis meses."
Exemplo disso são versões sofisticadas de phishing realizados atualmente no
país. Há um software usado por hackers que faz com que, quando o usuário digita
o endereço correto do internet banking, seja exibida uma página falsa idêntica à
da instituição financeira. O site fraudulento não está na web, mas no programa
instalado localmente no PC do correntista. Acreditando que está na internet, o
usuário digita sua senha e demais dados. O software então rouba essas
informações e as envia para o criminoso.
Para responder a essas ameaças, os bancos montaram uma subcomissão de fraudes na
Febraban com o objetivo de trocar informações sobre ataques na internet. Marcelo
Lau, pesquisador da área de segurança de sistemas da Escola Politécnica da USP,
diz que as instituições financeiras também contratam especialistas em perícia
forense para encontrar as provas de crimes eletrônicos e apresentá-las em um
julgamento de forma que tenham validade legal.
Lau conta que, em alguns casos, a investigação não consegue as informações
necessárias para condenar o réu pela ação que motivou o processo, mas acaba
encontrando outras irregularidades que - em uma versão high-tech do caso de Al
Capone - levam o acusado à prisão, mesmo que os crimes mais graves permaneçam
sem provas.
Um entrave à questão da segurança é o custo. Existem recursos que poderiam
reduzir as fraudes bancárias via internet, como o uso de tecnologia de
certificados digitais armazenados em dispositivos chamados de tokens. Mas
oferecer uma solução desse tipo em grande escala exigiria investimentos pesados.
"O internet banking foi criado para reduzir os custos com as agências. Se os
bancos tiverem que gastar demais com segurança, este canal pode se tornar
inviável", diz Ricardo Costa, especialista da Symantec, empresa americana de
segurança de sistemas.
Os técnicos são unânimes em afirmar que o grau de proteção dos bancos
brasileiros é bom. O principal problema, afirmam, está do lado do cliente.
Muitos usuários de internet banking não tomam os cuidados básicos, acreditam em
e-mails que pedem dados pessoais e não usam sistemas de proteção em seus
computadores. "Se o correntista não tomar cuidado, não adianta o banco investir
pesado em segurança. É o mesmo que fornecer um carro blindado ao cliente e ele
manter o pino da porta destravado", compara Lau.
A segurança pode não ser perfeita, mas conta com ajuda da Justiça. Na semana
passada, seis hackers foram condenados à prisão no Paraná, acusados de criar
e-mails com programas que fraudavam acessos a contas bancárias.