A TI é igual a estradas de ferro e redes de eletricidade?

08 ago 2003
IDG Now!
http://idgnow.terra.com.br/idgnow/corporate/2003/08/0003
Computerworld EUA

A tecnologia da informação transformou-se em uma commodity. Tudo o que restou para fazer é controlar riscos e custos. É o que diz Nicholas G. Carr, na edição de maio, da Havard Business Review, quando publicou o artigo “IT doesn´t matter”. Carr argumenta que a tecnologia, assim como as estradas de ferro, as redes de eletricidade e outras revoluções da infra-estrutura que vieram depois, tornaram-se tão ubíquas que as empresas não podem viver sem elas. No entanto, não oferecem mais vantagens estratégicas.

Em entrevista ao COMPUTERWORLD/EUA, Carr, editor da Havard Business Review, diz que “o gerenciamento da tecnologia tem ficado, francamente, muito enfadonho”.

Por que o valor estratégico da tecnologia da informação tem diminuido?

Para ter valor estratégico, a tecnologia precisa permitir que as companhias a usem de uma forma distinta. À medida que a tecnologia se transforma mais potente e ubíqua, todos passam a ter acesso. Como resultado, está se tornando cada vez mais difícil obter alguma vantagem sobre seu competidor.

Isso se aplica para todos os tipos de TI ou apenas para a infra-estrutura?

Estou definindo TI como um processo de armazenamento e transmissão de dados. Então, estou falando de coisas abrangentes. Tudo isso está se transformando na infra-estrutura geral dos negócios, assim como as ferrovias se transformaram em parte da infra-estrutura do século XIX e a eletricidade no começo do século XX.

O Sr. está dizendo, por exemplo, que os negócios já alcançaram a maioria dos valores que poderiam da internet?

Sim, a maioria do valor estratégico. Muitas companhias vão continuar a usar a internet para aumentar sua produtividade, mas isso vai acontecer em setores verticais, não no nível individual das empresas. Como um meio de diferenciação, eu acredito que já chegamos ao pico, agora estamos na curva descendente.

Quais são as características da TI que garantem esta rápida commoditização que o Sr. descreve?

Em primeiro lugar, TI é essencialmente um mecanismo de transporte. Ela carrega informação digital da mesma forma que os cabos elétricos transportam eletricidade. E é mais valiosa quando compartilhada do que usada isoladamente. Segundo, a quase infinita escalabilidade de muitas das funções da tecnologia, combinada com a velocidade de padronização tecnológica, significa que não há nenhum benefício em ser proprietário das aplicações.

Ninguém mais desenvolve seu próprio e-mail ou processador de texto. E isso está rapidamente movendo-se para aplicações mais críticas, como supply chain management e CRM. Sistemas genéricos são eficientes, mas não oferecem vantagens sobre os competidores, pois estão todos comprando os mesmos tipos de sistemas.

Com a chegada da internet, temos o canal perfeito para distribuição de aplicações genéricas. E à medida que nos movemos para os Web services, onde podemos comprar aplicações, tudo isso nos leva a uma homogeneização da capacidade da tecnologia.

Não é possível existir outra “grande onda” na tecnologia que ainda não foi visualizada?

Sim, é possível, mas nós começamos a observar que a capacidade da infra-estrutura tecnológica é maior do que as necessidades dos negócios. É sempre possível, no entanto, a descoberta de algo que mude tudo, mas é difícil imaginar que isso possa acontecer nos próximos cinco ou dez anos. Mesmo que aconteça, todas as companhias vão poder comprar esta capacidade.

O que a construção de infra-estruturas – como ferrovias e redes de eletricidade – nos diz sobre a proporção de riscos para vantagens no atual estado da TI?

Nos primeiros estágios, companhias conseguem vantagens, pois o acesso é limitado pelas condições físicas, patentes ou alto custo. Então, as empresas começam a observá-las como formas de construir vantagens. Mas quando isso logo acaba e a tecnologia se transforma num custo de fazer negócio no qual todos pagam e ninguém tem nenhuma vantagem.

Quando isso acontece, o risco envolvido em usar a tecnologia começa a superar suas vantagens. Por exemplo: ninguém tem vantagens por usar a eletricidade, mas a perda do acesso, pode devastar o negócio. Observamos a mesma coisa com a tecnologia. O risco começa a ser maior do que os benefícios, logo as empresas precisam de uma postura mais defensiva do que ofensiva nos investimentos tecnológicos.

O Sr. está dizendo que as empresas deveriam se preocupar mais com os riscos tecnológicos do que com os estratégicos?

Exatamente. Eu creio que a segurança deveria ser uma preocupação maior do que tem sido. Acho que a batalha pela real vantagem competitiva no uso e gerenciamento da TI é sobre custo. É difícil usar a tecnologia para ganhar vantagem estratégica, mas se você usá-la pobremente, sua empresa pode ficar rapidamente numa posição de desvantagem de custo.

Se está ficando cada vez mais difícil provar o benefício da tecnologia, por que a última tecnologia não é o lugar para estar?

As companhias deveriam se perguntar não apenas se os investimentos de tecnologia são baseados em cálculos de retorno sobre investimentos, mas se o retorno será ainda maior se esperarem mais seis meses ou um ano. Um imperativo no gerenciamento de TI é ir devagar, ou seja, é melhor seguir do que liderar.

Os responsáveis pela área de tecnologia deveriam seguir novas carreiras?

Depende de que tipo de gerentes eles são. As companhias compraram a idéia de que a tecnologia é um recurso estratégico. Como resultado, contrataram CIOs (responsáveis pela área de TI) que são pessoas que pensam a estratégia de tecnologia.

Mas em razão dos gastos, que ainda serão altos, há uma enorme necessidade de habilidade técnica, homens de negócios que podem realmente ajudar as companhias a tirar o máximo de seus gastos com tecnologia da informação. Eu acredito que o gerenciamento de TI vai ficar menos sexy, mas permanecerá, de uma outra forma, essencial.