Silvio Genesini
Sócio-diretor da Andersen Consulting
Informática Exame, Nov-96, p. 23
Os profissionais que ocupam os cargos de Chief Information Officer (CIO) nas grandes empresas estão ganhando cada vez mais. Mas também são demitidos numa velocidade impressionante. Essa é uma posição de alto risco e forte adrenalina, como talvez nenhuma outra em nossas organizações. O aumento médio real dos CIOs no mundo gira em torno de 15% anuais, o que fará dobrar a sua remuneração atual em cinco anos. Isso está muito acima, portanto, dos 4% anuais de crescimento médio registrados pelos demais cargos. Os aumentos nos informatizados setores de serviços financeiros e de telecomunicações são ainda maiores --- alcançam os 30%, o que representa o dobro do salário em três anos. Algo assim compensador deveria ser feito para durar.
Mas não é o que esta acontecendo. A permanência média desses valorizados profissionais em suas organizações não ultrapassa três anos. Na maioria dos casos, por decisão da própria empresa. Muitas delas afirmam que tiveram mais de três CIOs nos últimos cinco anos. Nada indica que esse fenômeno, aparentemente contraditório, sofrerá alguma alteração. Pelo contrário, o mundo que cerca os CIOs aumentará de complexidade e intensidade. A progressiva digitalização dos processos internos e externos torna o sucesso ou o fracasso de uma companhia umbilicalmente ligado ao desempenho de seu CIO.
A Tecnologia da Informação não deverá apenas suportar o plano de negócios e estar sincronizada com ele, mas também habilitar estratégias e direções vencedoras ou perdedoras. As estatísticas registram o fato, mas não são muito favoráveis na avaliação de desempenho. Em 1996, os investimentos em Tecnologia da Informação já representam mais de 40% do total despendido em equipamentos nas empresas americanas. Era menos de 10% há vinte anos e vai ser mais da metade nos próximos três anos. Os benefícios dessa revolução teimam em aparecer nos números macros de produtividade de nossas economias e surgem apenas timidamente nos resultados empresariais. A situação interna não é mais encorajadora. As mutações da arquitetura de tecnologia não param nunca. Apenas uma minoria conseguiu completar com sucesso a migração para o mundo cliente-servidor e ele já não é mais politicamente correto. Chegam para o horário nobre o network-computing, o comércio eletrônico, a Internet e as Intranets. Ao CIO cabe estabelecer a estratégia e definir a direção, abrindo mão do controle direto da infraestrutura e do orçamento de Tecnologia da Informação, que está passando para as unidades de negócios ou mesmo para fora da companhia.
Convenhamos, a tarefa é hercúlea. Que características deve ter esse profissional para que ganhe o bônus e carregue com galhardia o ônus da função? Deve, primeiro, conhecer profundamente o negócio, os mercados, os clientes e os concorrentes como se fosse o presidente da companhia. Precisa estar informado sobre tendências, novidades e soluções voltadas para a Tecnologia da Informação como um consultor. Deve ser um agente de mudanças e um team-player como um profissional de RH. Precisa, ainda, responsabilizar-se por resultados, custos e lucratividade, como faz o diretor financeiro. Tal profissional merece, sem dúvida, alta recompensa e longa permanência. Em organizações cujos produtos e serviços sejam digitalizáveis, esse profissional deveria ser o próximo presidente ou o Chief Executive Officer (CEO).