SE

Joseph Rudyard Kipling (1865-1936)
Trad. Guilherme de Almeida (1890-1969)

 

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao redor já a perdeu e te culpa;

De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;

Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, odiado, sempre do ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar -- sem que a isso só te atires; De sonhar -- sem fazer dos sonhos teus senhores,
Se encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;

Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;

De forçar coração, nervos, músculos, tudo
E dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: Persiste!

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade;

E se és capaz de dar segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo
E o que é mais -- serás um Homem, meu filho!