Voluntários para atentados suicidas já são 55 mil
Estadão, 18-abr-2006
O Comitê de Promoção dos Mártires do Movimento Global Islâmico foi criado há
dois anos e meio, em Teerã. De lá para cá, afirma ter recrutado 55 mil
voluntários a se tornarem "shahid", ou mártir, como é chamado, nos países
muçulmanos, o autor de atentado suicida. Seus alvos são: todos os países que
ataquem países muçulmanos; Israel; o escritor anglo-indiano Salman Rushdie,
autor de 'Os Versos Satânicos', que lhe valeu uma condenação à morte pelo
aiatolá Ruhollah Khomeini. De acordo com Mohsen Yazdi, membro do Conselho
Central de Organização, a entidade não dá conta do número de pessoas que querem
aderir, em todo o mundo.
As inscrições se intensificaram com a hipótese de os EUA
atacarem o Irã por causa de seu programa nuclear. O grupo tinha antes um site na
internet, pelo qual era possível preencher o cadastro. "Os americanos o tiraram
do ar", diz Yazdi. "Mas estamos preparando um novo site." Segundo ele, há até
mesmo judeus e cristãos entre os voluntários. Também querem ir ao paraíso? "É
isso aí, e é perfeitamente racional", responde. E Yazdi, gostaria de ser shahid
também? "Esse é o meu sonho", responde o rapaz de 25 anos. "Tenho um desejo
enorme. Não é morrer. Alá diz, no Alcorão: 'Dê-me tua vida, e te dou algo muito
melhor.'" E o que acham seus pais disso? Yazdi conta que, durante a guerra
Irã-Iraque (1980-88), seu irmão mais velho foi lutar e voltou ferido, e seus
pais aceitaram. "Meus pais gostam dessa minha fé."
Yazdi explica que não há restrições de idade nem de sexo. Crianças e velhos
também se inscrevem. Mas a maioria tem entre 18 e 30 anos. Ele diz que o Comitê
não tem ligação com o governo, e que não tem muitos custos: "A imprensa, os
canais de TV do mundo inteiro divulgam a nossa causa", diz ele, com um sorriso.
Cercado, em seu estande, de monitores de TV passando filmes de operações
suicidas, Yazdi diz que não pode informar quantos de seus voluntários já se
explodiram.