Concorrentes fazem acordo contra "roubo" de talentos

http://www.valoronline.com.br   05-out-2006

Quem ocupa um cargo estratégico na Boeringher Ingelheim, muito provavelmente nunca receberá um convite para trabalhar na Eli Lilly e na Pfizer. Isso porque a indústria farmacêutica firmou um "acordo de cavalheiros" com essas companhias para evitar a caça predatória de seus talentos. A prática vem se espalhando por diversos setores da economia onde a briga por profissionais capacitados e detentores de informações estratégicas é acirrada.

O objetivo desses acordos, que não têm efeito legal, é preservar informações, clientes e o investimento feito na formação de funcionários. "Se um 'hunting' desse tipo acontece, isso abala a relação entre empresas que são concorrentes, mas podem ser parceiras em algumas áreas", diz Adriana Tieppo, diretora de RH da Boeringher Ingelheim.

Boa parte das companhias prefere não comentar esse tipo de acordo, muito comum entre consultorias, auditorias e em setores onde o conhecimento técnico é crucial para os negócios. Para consultores, eles impedem o profissional de decidir sobre a própria carreira. "As empresas se protegem para não ter que pagar mais", diz a consultora Vicky Block. Até os headhunters recebem o sinal vermelho ao cobiçar alguém de uma empresa participante do "acordo de cavalheiros" do cliente.

No alto escalão, a estratégia de retenção é feita por meio de contratos de não-concorrência, que prevêem uma "quarentena" remunerada para que os presidentes não trabalhem por um certo período para rivais. O executivo Augusto Cruz, ex-presidente do Pão de Açúcar, cumpre os dois anos previstos em contrato sem atuar no varejo. A Justiça começa a reconhecer essas cláusulas contratuais, quando os funcionários pedem indenização ou anulação da "quarentena". Mas, até hoje, quem mais vence esses processos são as empresas.