O ensino da Administração de Empresas no Brasil: algumas lacunas

O empresário Antônio Carlos Vidigal escreve sobre as diversas dificuldades enfrentadas pelos administradores brasileiros em decorrência de falhas no ensino.

27-set-2005
http://www.opiniaoenoticia.com.br/interna.php?mat=1032

Tendo viajado por muitos países a serviço das várias empresas em que trabalhei, muitas vezes fazendo parte de comitivas de empresários, constatei através dos anos algumas deficiências na nossa formação.

Nós falamos mal o inglês. É claro que existem muitas exceções, conheço empresários com inglês perfeito, mas na média falamos mal. Falamos pior que os argentinos ou os mexicanos, por exemplo. E isso é muito ruim, nos colocando em situação de inferioridade em negociações. E o inglês é, e vai continuar sendo no futuro previsível, a língua internacional. Por mais que nossos atuais governantes sejam contra essa língua, que deixou de ser matéria eliminatória para o concurso do Instituto Rio Branco, onde se formam nossos diplomatas, a verdade é essa. Sem falar inglês não há futuro, seja para empresários ou diplomatas. Não estou propondo que as faculdades de administração ofereçam aulas de inglês, não é papel delas. Mas deveriam ser mais exigentes com essa matéria no vestibular e deveriam sistematicamente exigir leitura em inglês. Isso poderia ser feito progressivamente, começando com artigos curtos e fáceis no primeiro ano e evoluindo para livros importantes gradualmente. Mesmo que isso não torne uma pessoa fluente oralmente, é meio caminho andado.

Outro problema que temos (mais uma vez com as honrosas exceções de praxe) é a dificuldade, ou mesmo o medo, de falar em público. Nesse ponto os americanos nos dão de dez a zero. E por quê? Porque desde crianças são treinados para isso. Os alunos são acostumados a se levantar, ir para a frente da classe, e falar. Já no ensino médio é estimulada a competição entre times de debate e isso continua nas faculdades. O resultado é que qualquer americano não tem medo de levantar e falar, seja para fazer uma palestra, um discurso ou um simples brinde após o jantar. Novamente não estou sugerindo uma matéria a ser dada formalmente, mas sim estimular os professores a imitar os americanos acostumando os alunos a falar na frente da classe.

A terceira lacuna que vejo é na técnica de negociação. Em meados da década de 1980 tive a experiência de participar, junto com outros exportadores, de uma equipe de negociação de cotas de exportação de aço para os Estados Unidos. Três ou quatro de nós éramos acompanhados por alguns diplomatas do Itamaraty, desde um embaixador que liderava a equipe ate um jovem recém-iniciado na carreira. Além de falarem inglês, de modo geral, melhor que nós, eles eram "feras" na técnica de negociação. Foi aí que fiquei sabendo que essa era uma técnica que podia ser aprendida na escola. Havia toda uma técnica que nós, empresários supostamente experientes, não conhecíamos. Neste caso acho que as faculdades de administração deveriam oferecer essa matéria, pelo menos como eletiva.

Estou convencido de que esses três pontos, se atacados com seriedade, melhorariam muito a eficácia de nossos executivos com resultados diretos no crescimento de nossas exportações.