Cola remunerada
Revista Exame, Edição Julho / 2002
A venda de trabalhos escolares é uma forma de cola remunerada que existe há
tempos e só recentemente passou a ser um, digamos, ramo de negócio próspero. Nos
últimos tempos disseminaram-se na internet sites que vendem teses e monografias
a preços que vão de 3 reais a página a 2500 reais, no caso de dissertação de
mestrado. Para saber como esses sites de ética questionável funcionam, visitamos
um deles, O Mina de Idéias
www.minadeideias.hpg.ig.com.br. "Contamos com o maior banco de trabalhos
prontos do Brasil", diz a página inicial. "Todos feitos por professores e
profissionais especialistas nos assuntos que abordam e conhecedores das regras
universitárias."
Resolvemos experimentar o serviço comprando um trabalho pronto no setor reservado a administração e finanças. Competitividade nas Organizações, Organização Inteligente e Conhecimento, Globalização como Paradigma da Humanidade... De uma lista de 50 títulos, escolhemos um de 80 reais sobre federalismo fiscal no Peru, segundo o site "uma análise de fiscalização do gasto público a partir da experiência peruana". Vieram 12 páginas cheias de frases difíceis de entender, como:
O sistema fiscal de o Peru, está emoldurado dentro do que é sem dúvida ao tipo de sistema administrativo que consagra a constituição peruana: o modo unitarista. Veremos, então, que a arrecadação fiscal e sua aplicação distributiva tem como comum denominador o centralismo político, crasso engano administrativo que ao ano 2001, trouxe-nos para o sito, de dê generalizado que hoje nos toca viver.
Entendeu alguma coisa? Nós, não. Mandamos a peça (leia a
íntegra do texto em www.exame.com.br) para
o professor Roberto Macedo, da Faculdade de Economia da USP, dar sua opinião. "A
nota é zero", escreveu Macedo. "Está muitíssimo mal escrito, não há conclusão
nem bibliografia."
No ar há quatro anos, o Mina de Idéias recebe uma média de 4000
visitantes por mês, dos quais 20% compram algum texto, segundo seu dono, o
sociólogo de Curitiba, Nuno Fontoura, de 28 anos. O site funciona com uma
estrutura de apenas dois funcionários fixos e colaboradores autônomos. "Ao saber
do que ocorreu com o texto sobre o Peru, descobri que esses trabalhos prontos
podem desagradar mais do que eu imaginava", diz Fontoura. "Não aconselhamos
ninguém a pegar um texto nosso e apresentar como sendo de sua autoria, mas
usá-los apenas como apoio."